A Ilha

Um lugar com praias de água doce com ondas!

A Ilha de Mosqueiro, que faz parte do arquipélago de mesmo nome, é uma entre as várias ilhas que integram a região metropolitana de Belém, capital do estado do Pará, no norte do Brasil. É rodeada por águas doces de vários rios, furos e baías que desaguam no estuário do rio Amazonas rumo ao oceano Atlântico.

Mapa geográfico da grande Belém.
Fonte: IBGE (Venturini, 1997) apud OLIVEIRA & SILVA, v. I, p. 32, 2020.

Situada numa região equatorial, de clima tropical, Mosqueiro tem cerca de dezesseis praias de rio com ondas, seguindo o ritmo da enchente e da vazante das marés, e que rodeiam grande parte da Ilha. Nessa região de clima quente e úmido, o sol e as chuvas têm presença constante. Apesar disso, é possível encontrar duas estações durante o ano.

Verão

Se inicia no final de maio, ainda com chuvas fortes, mas já espaçadas, e o clima quente do verão tem seu auge em julho. De agosto a novembro, devido ao aumento da intensidade dos ventos e a entrada do mar, as águas doces recebem o tempero salobre do oceano fazendo com que as ondas fiquem mais bravas e a coloração mais esverdeada. É nesse período que o surf é praticado em algumas praias da Ilha.

Inverno

De dezembro a maio, as chuvas se tornam mais intensas e frequentes e o volume das águas dos rios aumenta consideravelmente. O clima fica mais úmido, o céu nublado e o tempo mais chuvoso, contrastando com o sol em alguns momentos do dia.

Mapa turístico da Ilha de Mosqueiro, sua região balneária e principais pontos históricos.

Fonte: OLIVEIRA & SILVA. Hotel Farol: História e Memórias. v.I, p 36-37, 2020.

A bucólica Ilha de Mosqueiro é visitada durante o ano inteiro, principalmente aos fins de semana, férias e feriados. Além das praias, igarapés e as belas paisagens, é procurada pela variedade de comidas típicas oferecidas nas barraquinhas da praça principal da Vila, o centro cultural da Ilha, com destaque para a venda de tapiocas. Lá também estão localizados o Mercado Municipal, o terminal rodoviário, a igreja Matriz e o trapiche – antigo porto de desembarque dos navios vindos da capital, inaugurado em 1908.

A história da Ilha

A ilha fluvial, cuja história de ocupação vem de tempos em que ali habitavam povos de etnia Tupinambá, foi batizada como Ilha de Mosqueiro por volta de 1680. Em sua trajetória, foi palco dos embates entre portugueses e outros navegantes estrangeiros na conquista de suas terras. Em 1868, foi instituída como Freguesia, depois elevada à categoria de Vila e, somente em 1901, passou a ser distrito da capital paraense, tendo a Nossa Senhora do Ó como padroeira da Ilha. Apesar da tranquilidade e da beleza natural, as dificuldades de acesso ao local tornavam a Ilha um lugar pouco habitado.

Foi somente no início do século XX, durante a Belle Époque, que a Ilha passou a ser mais frequentada, devido ao costume dos estrangeiros residentes na capital de descansar na natureza, hábito que foi, aos poucos, incorporado pela cultura local.

A Belle Époque ocorreu durante o período áureo da borracha (1880 a 1912) e se tornou um marco na cultura amazônica, atraindo o investimento do capital estrangeiro, principalmente de ingleses, norte-americanos, franceses e alemães, que em sua maioria, eram os donos das empresas instaladas em Belém. A nova economia movida pelo látex, aliada a escassez de mão de obra, atraiu muitos imigrantes para essa região. O mesmo aconteceu em Mosqueiro, com o estabelecimento de famílias de comerciantes portugueses, sírios e libaneses. O local se tornou o refúgio da elite belenense e, ali, muitos estrangeiros começaram a construir suas casas de verão inspiradas na arquitetura inglesa, francesa e alemã, trazendo um novo cenário para a Ilha. Algumas dessas construções arquitetônicas fizeram parte do patrimônio artístico e cultural de Mosqueiro.

Os antigos chalets e vivendas construídos no início do século XX.
Fonte: Revista A Semana, 1920, v.2, janeiro, Acervo de Obras Raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna, apud OLIVEIRA & SILVA, v. I, p. 48, 2020

A fábrica da
borracha

Em 1924, devido a expansão do ciclo da borracha, Mosqueiro recebeu a instalação da Usina de Santo Antônio da Pedreira, da firma Bitar Irmãos, localizada na ponta do Areião. A fábrica de borracha exportava o produto manufaturado para o sul do país e outros países como Argentina, Uruguai, Alemanha e Inglaterra. A fábrica fica numa ponta privilegiada com águas profundas e deixou suas marcas na imaginação popular com a lenda da Cobra Grande. Dizem que a cobra vive sob a Fábrica Bitar e que a qualquer momento pode despertar do seu sono profundo e desaparecer levando consigo a fábrica para as águas profundas do rio.

Fonte: OLIVEIRA & SILVA. Hotel Farol: História e Memórias. v. I, p. 50, 2020.

O transporte na Ilha e a rota Belém – Mosqueiro

Na primeira metade do século XX, as chegadas e partidas da bucólica Ilha de Mosqueiro se davam apenas através das viagens de navio, que, aos poucos, foram aumentando sua frequência e facilitando o acesso ao local. Essas viagens marcaram um tempo em que o ritmo de vida dos moradores e veranistas era pautado pela tranquilidade da natureza, onde não havia luz elétrica, a mata era virgem e o acesso às praias era difícil.

Para conduzir os passageiros aos recantos mais distantes da Ilha, contava-se apenas com um primário sistema de transporte: charretes, cavalos, bondinhos puxados a burro (o ferro-carril, inaugurado em 1904) e outros meios de tração animal. Depois, na década de 1930, quando esse transporte não atendia mais à demanda dos visitantes, foi a vez da pequena locomotiva a vapor, conhecida como Pata Choca, atrelada a quatro ou cinco vagões, seguindo nos mesmos trilhos. Após a chegada dos carros e ônibus na década de 1940, a locomotiva e seus trilhos do ferro-carril foram desativados.

O navio Almirante Alexandrino, chegando para atracar no trapiche da Vila do Mosqueiro, em 1949.
Fonte: Autoria desconhecida, apud OLIVEIRA & SILVA, v. I, p. 61, 2020.

Entre os navios que fizeram a rota Belém-Mosqueiro, destacaram-se o famoso Almirante Alexandrino, o guerreiro das águas, que fez esse trajeto por quase cinquenta anos, e o luxuoso e potente Presidente Vargas, o cisne branco, que teve seu fim trágico em 1972, dando fim ao período poético das viagens de navio e inaugurando as viagens por terra. Em 1965, com a conclusão dos trechos Belém-Mosqueiro das rodovias PA-17 e BL-19, chegou a era da travessia de balsa. Com a construção da Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira, inaugurada em 1976, com 1.457,35 m de extensão sobre o Furo das Marinhas, finalmente, a ligação da Ilha ao continente tornou-se possível, encurtando o caminho da rota Belém-Mosqueiro.

As primeiras hospedarias e a expansão pelo litoral

Apesar do povoamento de Mosqueiro ter ocorrido no sentido da beira-rio para o interior, foi em torno da Vila, a ponta mais sudoeste da Ilha, que se formou seu centro cultural. Ali se concentravam algumas casas de pasto – locais que serviam almoços e jantares – e pensões menores, mas foi na Praia do Chapéu Virado que se instalou a primeira hospedaria naquela região. A expansão pelo litoral foi acontecendo aos poucos e, nesse processo, outra hospedaria surgiu, dessa vez, na ponta da Praia do Farol, lugar inabitado e de difícil acesso. A Ponta do Farol foi o cenário perfeito para erguer o tão sonhado Hotel Farol, que permanece até hoje.

Fonte: OLIVEIRA & SILVA. Hotel Farol: História e Memórias. v. I, p. 12-13, 2020.

“A Praia do Farol abrigou, no passado, e ainda hoje, o instrumento náutico que guia as embarcações nas noites escuras e nos dias turbulentos. (...). Foi ali, diante do velho farol, que Zacharias Mártyres iniciou sua jornada épica rumo ao empreendimento de maior ousadia de seus muitos intentos: o Hotel Farol. Tendo como vizinho apenas o velho faroleiro, adquiriu, no ano de 1922, as terras que viriam a se tornar seu lar. Naquele tempo, aquele pedaço da Ilha chamava-se Ponta do Chapéu Virado, conforme aparecia na documentação cartográfica antiga, nome de origem e de autor desconhecidos (...). Com o desenvolvimento urbano daquela área, o lugar e sua vizinhança foram se transformando. (...). Lá, separando-se da Praia do Chapéu Virado, tornou-se a Ponta do Farol, e sua praia passou a se chamar Praia do Farol”.

(OLIVEIRA & SILVA, 2020, v. I, p. 76)

“Durante a década de 1930, ergueu-se o prédio verde e branco que se tornou parte da paisagem, construído na mesma ponta onde outrora foi instalado o primeiro farol de navegação. À sua frente, firme e silenciosa, formando uma tríade com o prédio e o farol, avançando pelo rio-mar em direção ao horizonte, vê-se a ilhota, conhecida como a Ilha dos Amores, na qual se pode chegar a pé na maré baixa, para que, momentos depois, na maré alta, ela fique isolada no meio das águas. A ilha, como bem natural, foi tombada, junto com o Hotel Farol, como patrimônio histórico e cultural (2004).

Fonte: OLIVEIRA & SILVA. Hotel Farol: História e Memórias. v. I, p. 24-25, 2020.

Conta-se que o nome da pequena terra insular originou-se pela prática dos casais de namorados que ali deixavam seus nomes gravados em corações, selando suas histórias em marcas nas pedras, no mastro e em troncos de árvores ali existentes, convidados pelo romantismo do pôr do sol que ali se apresenta em sua explosão de cores.

O mastro, erguido nos primeiros tempos de vida no Farol, tornou-se um marco na história de amor de Zacharias Mártyres e Adelaide de Almeida. No princípio, antes mesmo que a pequena ilha se tornasse um templo aos enamorados, lá ele hasteava duas bandeiras entrelaçadas: a verde e amarela de seu país e a verde e vermelha lusitana, da pátria de sua companheira, num gesto de apreço à sua amada. Com o tempo, a força dos ventos teimava em rasgar as bandeiras, restando hoje apenas o mastro silencioso, que, como a ilha, guarda os sussurros de amores atemporais”.

(OLIVEIRA & SILVA, 2020, v. I, p. 80 e 86)

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